Hoje, Jander Minesso é roteirista audiovisual e escritor. Amanhã, sabe-se lá. Um tempo atrás, foi uma criança tímida que aprendeu a escrever cedo. Sua primeira obra publicada, ainda pequeno, foi um cartão de Natal custeado pela prefeitura de sua cidade natal (que não é Natal–RN, mas São Caetano do Sul–SP). É um ser humano reclamão, presunçoso e solitário, mas finge doçura e empatia porque esse fingimento o manteve vivo e bem até aqui.
Conversas é uma compilação daquilo que nos faz humanos: nossa capacidade (e incapacidade) de falar. Com uma série de diálogos — ora prosaicos, ora fantasiosos — Minesso aborda com humor o processo de comunicação, explorando temas como religião, relacionamentos e comportamento.
Quem nos apresentou foi a música. Por um breve período, fizemos parte da mesma banda — ele no baixo, eu na bateria. Quando esse encontro musical chegou ao fim, a amizade permaneceu. No balaio dela, as conversas, às vezes voltadas aos textos de sua autoria, que gentilmente ele permitia que eu lesse. Sorte minha e azar o dele, pois, durante muitos anos, teve de escutar eu dizer que ele precisava colocar seus escritos em um livro. Eu imaginava como seria reunir todas aquelas leituras em um só lugar. Queria ler o começo, o meio e o fim daqueles personagens que, na simplicidade de sua existência, revelavam a complexidade de ser em um mundo tão bagunçado — fosse para o bem, para o mal ou para o mais ou menos. Aliás, o “mais ou menos” é o meu lugar favorito nas suas histórias.
Este livro destaca o que mais admiro na escrita de Minesso: seu talento para observar o sujeito e transpor suas reflexões para a crônica no modo realidade encontra a ficção-que-é-ficção-mas-acontece. Os diálogos são movidos por uma ironia apurada. Afinal, ter longas conversas no espelho consigo mesmo já é tarefa árdua, imagine incluir nesse tête-à-tête familiares, amantes e o próprio Criador.
Mas não se engane: todos os personagens conduzem, mesmo provocando gargalhadas — ora pautadas no escândalo, ora na identificação com os desvarios compartilhados por muitos de nós, membros de uma sociedade —, à reflexão sobre comportamentos que, muitas vezes, reconhecemos apenas no outro. E, assim, acabamos olhando para nós mesmos.
Conversas é o resultado do bom uso da ironia. Há requinte em sua aplicação. Aqui, ela ajuda o leitor a lembrar que ainda há muito a aprender, questionar, analisar, deixar pra lá, rever, aceitar. E o melhor de tudo: isso pode acontecer em qualquer lugar, inclusive nas páginas de um livro.