Eduardo Rodrigues nasceu em Nova Iguaçu (RJ). Professor e escritor, tem textos publicados em diversas antologias e é autor do livro de poemas Só poesia na causa (Folheando, 2024) e As coisas (Minimalismos, 2025).

 

PARA ENFIM DORMIR
Elane Barreto dos Santos Ferreira 
 

 

O miniconto é um gênero textual que se alinha aos olhos rapidamente corridos pelas breves linhas dispostas em uma página, à efemeridade do tempo e ao entrelaçamento de raciocínios entre quem escreve e quem lê. Em outras palavras, ao dispensar a escrita longa e elaborada, o autor busca um leitor ou uma leitora carregado(a) de leituras diversas, capazes de possibilitar a dialogicidade literária.


Em Para enfim dormir, Eduardo Rodrigues já nos desafia, pelo próprio título, a não repousar. Ele provoca, instiga e nos tira das zonas de conforto em que, muitas vezes, insistimos em permanecer mumificados — pela rotina, pelo conformismo e até pela falta de coragem. Ao lermos seus breves relatos, somos sacudidos a nos reavaliar enquanto seres viventes, capazes de comandar o próprio destino e de subverter a ordem nada natural das coisas.


O leitor é convidado a dialogar, sustentado por seu repertório literário e cultural, com a intencionalidade do escritor em questionar as relações humanas vivenciadas na contemporaneidade. Esse movimento intertextual resgata, em nossas memórias, aquilo que um dia foi concebido como absoluto, apenas para desmanchar-se no ar.


Num processo metafórico, comparativo e sinestésico, os minicontos invadem nossa alma e impõem sensações instantâneas que, paradoxalmente, permanecem perenes em nossas reflexões diante do que foi exposto às nossas retinas — embora, muitas vezes, prefiramos sondá-lo de soslaio.
Nesta obra, Eduardo Rodrigues, por meio de passagens surreais, fantásticas e concretas, nos torna imagéticos, polifônicos, sarcásticos, ousados e, acima de tudo, poéticos.

 

PARA ENFIM DORMIR
Por Cláudia Arcenio

 

Para enfim dormir é um convite para habitar o limiar entre o sonho e o silêncio, onde o cotidiano se desdobra em pequenos atos carregados de significados inquietantes, poéticos e, por vezes, surpreendentemente sombrios.


Neste livro, o autor costura com maestria narrativas breves — que cabem no espaço entre um piscar de olhos e um suspiro —, revelando as camadas ocultas da alma humana, suas feridas, seus medos e as delicadezas escondidas no ordinário.


Cada conto é um nó apertado na garganta, um fragmento de silêncio cortado com a tesoura do indizível; um reflexo ácido da humanidade, onde princesas temem desfazer seus penteados enquanto lançam latinhas ao amor, onde maridos viram frutas estranhas e promessas são sempre adiadas.


Aqui, as palavras funcionam como lâminas delicadas, penetrando na pele da rotina e expondo a essência da fragilidade humana, a coragem e a solidão, como quem busca, finalmente, dormir em paz.


Para enfim dormir não é apenas um título: é o desejo profundo que percorre cada página — a busca pela tranquilidade após o ruído interno, pela aceitação e pelo encontro com aquilo que somos, no silêncio das pequenas histórias.