Por Paulo de Toledo
DEIXE O FRIO LÁ FORA
Omar Calabrese, em seu A Idade Neobarroca, fala do prazer da obnubilação, o prazer de se perder no labirinto. Obnubilemo-nos todos, percamo-nos para encontrar o prazer do texto, da textura, da tecitura. O poeta-minotauro, à vista de todos (mas de todos oculto sob espessas camadas de linguagem), em seu labirinto hialino, de paredes cuja estrutura é feita de silêncio e solidão, sem fio de Ariadne nem Teseu (mas há Eros, o artesão), tropeça nos móveis (lá tudo parece imóvel, menos a imaginação e a memória) e nos esfíngicos mistérios. Experto em construir pirâmides de areia nas praias de Santos, o poeta mata uma esfinge a cada esquina (sim, eu vi, ela está lá). No Catatau leminskiano, lê-se: “labirinto de enganos deleitáveis”. Não nos enganemos: para tirar deleite do labirinto do Mário, deve-se espremer a pedra, tirar deleite de perda, de pedra toantemente cabralina, preciosa como pérolas encasuladas em ostras enigmáticas. Pode entrar, mas deixe o fio lá fora.