A voz dos sinos é o décimo sexto livro do ficcionista mineiro Hugo Almeida (1952) e o primeiro de estudo literário. Jornalista formado pela UFMG (1976) e doutor em Letras pela USP (2005), organizou o volume de ensaios Osman Lins: o sopro na argila (2004) e, com Rosângela Felício dos Santos, Quero falar de sonhos (2014), reunião de artigos do autor de Avalovara. Organizou a coletânea de contos Nove, novena: variações (2016). A Editora Sinete publicou o seu segundo romance para adultos, Vale das ameixas (2024), que tem elos com a obra osmaniana. Almeida vive em São Paulo desde 1984.

 

Por Harley Farias Dolzane

 

“Escutando, não a mim, mas ao logos, é sábio dizer, no sentido do logos: tudo é um.” Essa é uma tradução possível de um fragmento de Heráclito de Éfeso. O filósofo convoca-nos a escutar algo cujo sentido sempre escapa nesse “um” que se desdobra em “tudo” pela linguagem (logos). O pernambucano Osman Lins (1924-1978) levou a sério tal convocação. Sua obra é uma das maiores na literatura brasileira, sempre explorando os limites da expressão humana e as possibilidades do que nos excede.


A pesquisa de Hugo Almeida é também um gesto de se pôr à escuta do sentido que ressoa nas grandes obras de arte. Esta série de ensaios livres apresenta análises detalhadas de temas e atravessamentos intertextuais decisivos para a interpretação da ficção osmaniana: elementos do sagrado, construção de personagens femininas e a configuração do amor no texto literário.


Leitor dedicado e estudioso da obra de Osman Lins, exímio escritor de contos e romances, Almeida oferece uma visão abrangente e meticulosa de toda a ficção de Lins. As análises são claras e acessíveis, proporcionando uma leitura prazerosa e iluminadora tanto para novos leitores quanto para especialistas da obra do autor.


A voz dos sinos é uma contribuição valiosa para os estudos literários brasileiros, especialmente no ano do centenário de Osman Lins. Este livro celebra o talento do escritor e inspira uma nova geração a explorar a riqueza e a profundidade de sua obra. Assim como Heráclito nos convoca à escuta do logos, Hugo Almeida nos convida a ouvir os dobres da linguagem na ficção de Osman Lins, revelando camadas de significado que continuam a escapar, fascinar e propiciar novos percursos na inesgotável procura pelo sentido.