Emilio Terron é professor e Mestre em Filosofia pela PUC (dissertação: O sertão maior que o mundo). Há mais de vinte anos, ministra cursos e palestras em diversos contextos, em universidades, escolas, institutos de filosofia e psicologia, para grupos de teatro, de dança e de palhaço. Atualmente, é professor para graduação em medicina na São Leopoldo Mandic e Núcleo Luz (dança contemporânea). Selecionado para a antologia de poemas da Editora Vivara Nacional e autor dos livros Auto retalho (Multifoco, 2016 e Pedragocia (Appris 2020).

 

QUEDA QUE DÁ

 

Queda que dá aponta, a partir da constatação de estarmos no seio do fogo cruzado, para um desmoronamento transversal de tudo o que colabora com a guerra civil e a fábrica de "vida nua", e aposta na direção avessa ao culto viril do ativismo de alta performance. Ele enseja alguma intimidade com "potências" do declínio e da queda como modo de precipitar tanto a desaderência de um certo mundo quanto uma "forma-de-vida" para um mundo "que vem", como apela Giorgio Agamben, filósofo de cuja obra muitos desses poemas foram inspirados. 

 

Por Luís Fernando Bolognesi

 

Acabei muito tocado… A coisa foi se revelando. Primeiro uma lucidez abrasiva. Absurdos. Inconformidades brutais e fundantes. Mas aqui e ali pipocaram ironias, adiante um toque elegante de bom humor. Lembrei do Drummond: “Uma flor nasceu na rua. Rompeu o asfalto...” Acho que o principal foi a conclusão: “Me fez bem.”
Ative-me a compartilhar a experiência sensível que a leitura dos poemas me propôs. A depuração de minha experiência lendo este livro deixou claro o percurso da natureza das revelações que se seguiam: lucidez, humor, candura.
Num primeiro momento é muito ácido, mas vai se transformando. Um menino cdf chega com ar de intelectual, aos poucos, arrisca brincar com um carrinho e acaba rolando no chão com o seu cachorro querido. Foi isso que reconheci. E uma coisa não supera a outra, elas estão amalgamadas.
Note que a leitura do deste livro não acaba quando o fechamos. Experiência que ecoa. Como artista, é minha meta.   

Por Marcos Fleury

 

Que experiência fazer a travessia desses poemas... Difícil encontrar palavras para estas outras coisas, afetos, que se desprenderam dessa leitura. Quedei-me, de fato! Atingido em cheio, tingido de afetos intensos in-per-curso, é certo: quedei-me. Agora te conto de impactos, cacos e soluços provocados por essa leitura. Por hora, acho que só consigo oferecer um breve resumo.

Uma viagem pela “crepitação destituinte”, pela contemplação vertiginosa de tudo que cai (caímos, quedamo-nos). Em meio à vertigem um laivo de aconchego: da mais funda solidão, e cansaço, algo reluz com possibilidades de se inaugurar como batom numa boca que ama... 

Mas a visão abissal retorna:


“Qual será o limite de pressão
que uma vida pode suportar? (...)
Diante do que não poderia
ter escorrido pelas mãos
não há mais a que se recorrer. (...)
E parece que é preciso
- sob pena de morrer -
reaprender o que nunca saberemos: a calar,
a querer,
a cair.”


E eis que você (me) resgata com verso daquele itabirano e melancólico homem de ferro:

 

“pois a hora mais bela surge da mais triste”. 


Ufa! Pra mim, Emilio, esse verso é o começo e o fim de tudo a que me agarro. Não se trata só desse poema mas de todo o livro A rosa do povo.
O seu livro é um dialogar/debater entre o (sem)fim e a ressurreição. E esse livro do Drummond também vai na mesma chave da esperança melancólica, escrito em partes durante a guerra, lançado como um grito trôpego e corajoso. Contudo, sua escrita tem mais luzes, tem cores e sabores de Orides Fontela e as marcas de outros filósofos que perscrutam abismos de des-ilusão e linhas de fuga por uma vida menor. Você cavalga, portanto, com uma armadura conceitual mais pontiaguda e altiva.
Enfim, foram inúmeras as ondas causadas por seu/suas Quedas...que dá, que dá vontade de não parar. Mas parei, fui parado e parei de ler porque me engasguei e chorei com ‘Hoje’:


“Para escrever um poema
É preciso não ter se despedido de sua mãe em Gaza.
É preciso carregar um filho rígido no colo.
(...)
Decorre a léguas das façanhas,
O gesto que ascende ao poema.
O ser humano que vem adota a palavra que resta.”