Por Carla Dias
A cadência é errática. Tudo acontece tão rápido, às vezes, tão lento, que acabamos clientes das trilhas e das técnicas, ou regidos pelas versões que nos alcançam ao toque do impacto. Tempo é o que nos afasta de quem fomos, mas também de quem nos tornamos, o que nos leva a permanecer distantes de nós mesmos no caminho das buscas e das esperas. Mas é ele, também, o provedor das oportunidades de nos reconhecermos em acontecimentos, em outras pessoas, em nós mesmos.
“Banco vazio” é um apanhado de leituras do tempo, seja na pele da juventude da primeira vez — de ver o mar, de encontrar o olhar do filho, de encarar a partida definitiva do pai — ou nas entrelinhas das esperas — pelo caminhão-pipa, pela oportunidade de uma vida melhor, pela transformação da dor de mãe em amor. Quem decide ficar, vestir-se de observador, viaja nas brincadeiras infantes e na violência emocional de ser o detentor da incapacidade de desligar o imutável criador do espaço desocupado pela presença de quem se ama.
Welington Souza leva o leitor a diversas viagens, à variedade de cortinas suspendidas para espiadelas e contemplação. E sugere, aos que insistem em ser especialistas em controlar o tempo, que ocupem o banco vazio, escutem o silêncio, reencontrem o passado na engrenagem do presente e no sorriso do futuro. Porque o tempo nos dói o tempo todo, e também nos deleita desde sempre.